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te amei assim

música experimental

 

 

te amei assim 

série atonal

calma e apaixonada

nessa paisagem sem pausas

ou silêncios

com palavras ruídos

violências

desta cidade desafinada

trincar de copos 

sem nunca dormir das casas

ao som de frestas secas e janelas soltas

velhas portas

carros e corpos velozes

putas nas esquinas mortas

multidão imensa e rouca

dançando ao coro de muitas vozes

música torpe e louca.

 


te amei também calada

em composição para verso e prosa

minha breve erótica safada
 

 

te queria em lá

e te tinha aqui

num breve sustenido

das cordas que serão sempre só tuas

e que suave recostavas

sobre minhas dobras nuas

 

eu te tinha ao pé do ouvido

 

e se hoje penso em si

logo me perco em um ponto

entre duas notas

fora de destino

remotas

soltas entre pregas dos meus vestidos

 

 

se adiante te encontro

oitava abaixo

sei que depois te perco

e me acho

 

e só te canto

e te escrevo

porque me esqueço

e me canso

desse arranjo feito para jazz

samba, mambo

bossa e frevo

e colapso.

 

 

 

eu me alço para além

me rearranjo

e venço sem dó
este amor

que é agora de ninguém

de nada

nem de outrém

composto feito salsa

em fá bemol

para pequena farsa.

 

 

às vezes fecho olhos e te vejo:

fronha

cama 

e amassado lençol

de algum dia da semana

sem música e sem sol

 

tocando minha pele,

dedos prestos para guitarra e viola

dentro e fora de escala

movimento para sofá,

chão,

pia e vitrola

na tua sala

em fá

onde vivem agora

apenas fantasmas de uma série

sem pauta

fôlego e partitura.

 

 

 

 

 

 

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