ps:

ande com meus pés descalços

saia por aí distraído

fale com árvores e imite sons de pássaros

ande com meus pés

deixe meus dedos sob seus dedos

me devolva de graça

pequenos segredos

de tornozelos, pelos

e solas 

beije o peito de meus pés

ande de ré

vá até o céu de nossos desejos

retorne na contramão

caminhe em círculos

construa pequenos

espaços

ande com minhas roupas

faça compras com minhas roupas

escolha verbos com meus sapatos

converse com meus medos e pratos

tire minhas roupas

pra dançar

deixe meus óculos sobre tua mesa

revire as gavetas

mexa nas estantes

coma restos de minha sobremesa

 

depois leia meu horóscopo ao contrário

vire copos pra baixo

reviste armários

e cuspa no prato

que comeu

um dia foi teu

e hoje tem bordas trincadas

sobras delicadas

de louça branca

e umas poucas salgadas lembranças

que o tempo derreteu.

 

veja o sol com meus olhos

recolha as frases dos postes

e poste

uma foto nunca feita:

você e eu

sorrindo

e dormindo

de costas para um infinito

ao som de nova bossa.

 

veja as ruas com minhas retinas

vague por ruas

escuras,

faça das minhas palavras, 

as tuas

varra tua casa

com vassoura

vê se vasculha

tire pó dos móveis

repita minhas piadas cretinas

enquanto

te penso sóbria eem bares,

nas esquinas.

 

se volte contra regras, normas, impostos

revolva meus gostos

finja que não me vê nem me ouve

não me sabe

não me teve

não me soube

roube meu nome

contracheque

substantivos prediletos

meus melhores pronomes

 

vez ou outra

me esqueça

me negue

me delegue para o terreno baldio de seus turbulentos sonhos