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:::verso prosa & silêncio:::
escritos e edição de Natália Nolli Sasso
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vai, você conduz.
eu: olhos fechados.
tuas mãos guiando as minhas na concreta escuridão.
me leva para um país delirante, nação que navega em direção contrária, ruma fronteira imaginária.
marca com teus passos um trajeto certeiro, roteiro em círculos para longe.
atravessamos pontes altas. costuramos com passos e pernas uns tuneis longos.
dança de dedos na agitação do breu, busca meus dedos que te buscam
às cegas, que te pensam cegos por vazios que separam cidades inteiras.
vai, escolhe ritmo e caminho. na noite dos meus olhos ouço tua respiração agitada, homem lobo correndo na estrada. e um silêncio entre outro silêncio, e mais outro intervalo de silêncios surdos, e agora somos dois juntos numa ilha inventada.
vem. mostra a rota secreta escrita na planta do pé. leia o mapa da ilha perdida na palma da tua mão.
linhas retas e curvas de sorte, me mostre o norte desse passeio à sombra. me conta no escuro um segredo puro.
conduz o peso do meu corpo, animal quase manso, doma minha alegria. dedilha mil formas escondidas, me hipnotiza, e me esquadrilha carinhos bobos.
pega pelas mãos que cedem, caem sobre as tuas que já são tão escuras que são quase mais que duas, quase mais que tuas.
faz me tua, entre peles e o calor do nervoso sangue. vive o desejo que nos molha, jorra, jateia, passeia.
passa as mãos pelas costas das costas das minhas mãos. erra, vagueia.
e já sou tua há tanto que não preciso horas ou séculos calados.
se foi cidade, mil cidades sem nativos, país infinito, ilha perfeita.
dá me as mãos até o fim desse mundo.