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I -
requiem precoce

 

 

quem irá chorar a morte de um desajustado? um homem de raras grandezas, gestos poucos, nada de obras, sem feitos, proezas, esse animal sem regras ou sossegos?

 

roçar lhe a testa fria na hora morta da despedida, dizer que vá descalço para a travessia, chegue de mãos vazias ao mundo desconhecido do silêncio sem trégua, se entregue tão livre à luz da morte quanto se entregou em vida, ao limítrofe, sem freios, receios, medos, medidas?

 

quem irá apagar a vela prematura da morte de quem flertou com essa senhora sombria, dia e noite noite e dia?e velará sem amargos prantos ou falsos espantos o corpo mudo desse verbo sempre excessivo?quem ouvirá calar seu grito escondido, essa vida protesto contra a virtude, a cautela, o agrado? 

 

quem irá lembrar a música disforme de seus pneus rasgando ruas, cortando nas madrugadas fios de paz dos pais daquela cidade sonâmbula? 

que música cantará a missa de suas tantas viúvas precoces, santas dispersas, amantes belas, filhas baldias, mães anônimas, mulheres muitas, umas  aflitas, poucas tardias? 

 

abençoará o altar da madre igreja essa pequena pátria bandida? receberá sob seu rico manto o corpo apagado de um homem dado ao extremo, ao erro, ao abismo, ao nada? serão em que velho latim ou em que gargantas apertadas ditas as benditas palavras para esse fim de jogo: homem versus morte, dança fatal com a própria sorte? terá tons de vermelho, o pôr do sol desse dia de outono, naquela cidade sem eira, beira e dono? uma nesga de sangue no horizonte a bendizer quem dança à morte, quem a teve como melhor amante, e bebeu a vida, quem nunca teve sobre os olhos, o sono? 

 

quem fechará o terno justo desse deselegante, desse anônimo descontente? quem perdoará sua escolha por viver a morte em vida, e essa irracional desmedida?quem se recordará de suas paixões, quem lhe escreverá uma elegia? quem irá chorar toda sua coragem e covardia?

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para a boa passagem de R.
 um James Dean do interior de São Paulo

II -

A M A N D A  &  J O Ã O 

 

 

Amanda pensava 

 

 

Pensava o amor, logo pensava a vida não passa de um suspiro, 
e rimava baixinho: o tempo é um doce vampiro, 
(Talvez eu morra sorrindo, aos 32 anos.) 

 


Pensava o amor: um encontro às cegas,

bobeira que faz sorrir contente na fila da padaria. 

Pensava o amor: ato sublime, bilhete de ida sem volta ao fim do mundo.

A busca por um beijo perfeito. O amor: também um pouco de inferno.

Ou como Beatles tocando ao contrário, para se dançar nua, sem parar, numa festa de otários. 

 

Amanda passava as próprias roupas, 
e não confiava em gagos. 
Em jejum, bebia dois copos d' água. 
Depois esquentava a água do café. 
Detestava café solúvel, gatos e jornais. 
Morava numa cobertura, 
ali naquela rua. 
Fotografava marinheiros e cais. 
Não acreditava em deuses, ovnis e dons paranormais.

 

 

Pensava o amor: desordem, motins, anarquia.

Pensava o amor enquanto amontoava louça suja sobre a pia. O amor e um velho sabor de cerveja curtida em toneis de madeira, a bagunça bonita sobre a cama, aos sábados, ou uma vida inteira. E sorria. Amanda sorria muito.

Sentia-se magra e boba demais para a idade que tinha.

 

Mês sim, mês não,

esquecia a conta do condomínio, de luz e o horário das aulas de natação.

Mês sim, mês não,
viajava sozinha para um lugar desconhecido, e comprava um novo vestido.

 

Tinha mania de corrigir a gramática alheia.
Na tpm, muita cólica e olheira.

 

Não ia ao mercado,

fazia lista e implorava à pobre Maria. Preferia a feira, que quase todo domingo perdia. 

 

Pensava o amor: um abraço paralisante,

acidente cósmico capaz de interromper a dança perpétua da Lua ao redor da Terra. E muita guerra: gritos, explosões, arranhões, trepadas violentas e ímpetos bélicos de amantes colados por beijos e sonhos diamantes.

 

Amanda amava pão com salada, e rabo de cavalo com trança.

Às nove da manhã era mal humorada.

às três da tarde, ensonada. às onze da noite, desligava o telefone, às três, esquecia o próprio nome. 

Jogava fora tudo que não usava.

Comprava sapatos maiores que os pés. 

Dormia tarde e pouco. 

Nunca tinha roncado, e desconhecia enxaqueca até os cinquenta.

No inverno, era melancólica e lenta.

 

 

Pensava o amor: revolução de arredios que faz os vestígios de Pompeia parecerem pedrinhas para pouco rio;

e os mares do Pacífico, mansos regatos onde trafegam tediosos patos.

 

Pensava o amor enquanto esfriava seu prato.

Ensaiava, anotava e dizia em voz alta: o amor é a troca justa da eternidade morna por dez minutos de euforia. 

 

Em 2023: apresentou estudos sobre a descontinuidade da espécie.

Em 28, ganhou prêmios internacionais com a teoria inversa à teoria da evolução. Em 2030, defendeu a tese dos contrários. 

Em 2034, sonegou impostos, mudou de cidade, e trepou com piratas e notários.

 

Seus livros traziam na capa sempre a cor azul e a frase no prefácio:

 

“a vida merece uma cena imprevisível no próximo ato. E eu detesto comercial de margarina.” 

 

Na academia corriam muitos boatos. Sua mãe cortou relações. Velhos amigos quase já não tinha.

 

Trocou a vida social por loucas descobertas aos sessenta. 
Seus livros, uma febre de leitores vorazes. 

 

Nunca os dedicava, nem na capa agradecia. Tinham desfechos mordazes. Esbravejava contra Darvin, enquanto escrevia.
Não comparecia aos eventos de lançamento,

enviava a pobre Maria. 

 

Aos 67, deu um golpe na Fazenda, mudou-se sozinha para a China.

 

Pensava, então, o amor em mandarim. Deixou ex-maridos, teorias, vestidos, livros, família. Deixou tudo para morrer abraçada ao impossível em uma desconhecida esquina.  

 

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J o ã o  p r o c u r a v a

 

 


João folheava os classificados de domingo: 
morena fogosa, faz tudo. 
loira ninfeta, delírio sem fim. 
ruiva ousada, vinte anos. 
Sandra, vulcão em erupção. 
Carla, topo ménage. 



João tinha por hábito a solidão, e charuto cubano. 

 

Procurava carros e amores vadios em páginas amarelas,

sites de relacionamento, aplicativos de encontros.

 

Procurava o amor nas coisas insólitas, tinha gosto por pratos prontos. 
Preferia conversar com desconhecidos, tinha poucos amigos. 
Católico sem convicção, votava nulo a cada eleição.

Voltava pra casa às cinco da manhã do dia seguinte, dois dias perambulando por corações alheios, perdido entre pernas torneadas. 

 

Era funcionário público dos correios.
Tinha uma pinta no queixo, usava perfume barato, e lia a sessão de política todo dia.

Só tomava café sentado.Fazia sexo sem beijo. 

Cabelo ralo, pescoço magro. João conversava em francês com as francesas da orla.

 

Sóbrio só às segundas, versado em literatura grega às terças.

Às quartas, missa e futebol. Às quintas, moças, e vinho espanhol.

Procurava o amor nas bundas fartas, entre peitos grandes, e cabelos forçosamente lisos, nas pias dos banheiros dos restaurantes, nas sobras de amores dos velhos amantes. 
Lia contos de detetive.

 

Preferia morenas às loiras, e não recusava das negras nenhum convite.

 

Almoçava em restaurantes sujos do centro da cidade. Escondia das colegas de trabalho a própria idade.  

Comprava pão francês toda manhã, passava manteiga, ligava a TV e comia deitado. João era um tanto azarado. Fazia a quina, a mega, a loto, o bicho toda semana, e em nada era sorteado.

Procurava o amor por quilo, por hora, por noite: débito ou crédito? 
Não gostava de cães nem de crianças.

Evitava reuniões de condomínio, festas de família e discussões longas. Parecia romântico, mas era asmático. Sagitário, ascendente e lua em escorpião. 

Em 2019, parou de fumar.

 

Aos cinquenta, aprendeu hebraico. 
Em 2035, perdeu mãe, pai, irmão em acidente de carro. 
Aos setenta, sob um corpo forte, farto e negro: dores no peito. 
Coisas do coração, um enfarto.

 

              ____________

III-

do amor e tantos outros demônios

 

 

Tenho um professor que repete sempre, a cada aula, a pergunta: de "onde" estamos falando ou escrevendo sobre algo, e esse algo é arte, via de regra, que fique claro. 

 

A pergunta, via de regra, me faz pensar nas coordenadas geográficas, meridianos e paralelos, praias e pastos, desertos e estalagens, ruas e becos, comércios locais, lugares que reconheço, de alguma forma. 

 

Mas antes que eu responda, ele já foi para outra questão, seguindo seu roteiro próprio de questões. 

 

É importante se perguntar sobre; mas responder é um algo de cada um, cada enunciador e suas linhas paralelas e transversais no espaço. É um exercício sem prontidão nem pressa. Porque é fundamental entender de onde escrevemos e pensamos. A partir de que lugar nessa abstração infinita chamada mundo.

 

Hoje, olhos inchados e de luto, eu afirmo sem vacilo que escrevo de alguma escrivaninha dalguma casa de Macondo. 

Há dias que eu penso "nunca saí de Macondo", e não sei se existe o fora de Macondo. O lado B de Macondo. 

Mesmo viajando, tenho a impressão de levar Macondo comigo. Mas são dias, há um algo volúvel nessa resposta, mas cabe para o momento de agora, para esse texto, como uma luva.

 

Eu vivi parte importante dos meus dias do final da infância e começo da adolescência lendo os livros de Gabriel García Marquez. 

Se fosse totalizar dariam meses de viagens pelo Caribe, semanas pelo interior da Colômbia, sem milhas, sem fotos, e inteiramente maravilhosas.

 

O primeiro livro dele a me chegar às mãos foi Cem anos de solidão - o clássico. Todas as gerações adultas da minha família já tinham lido, e era como um rito de passagem lê-lo também. 

Tanto que ao chegar em minhas mãos o exemplar já detinha umas quatro dedicatórias diferentes, de filhas para mães, entre irmãos que já não se conversavam, tios para sobrinhos distantes, amantes secretos... o livro já era amarelado e folheado por duas ou três gerações de Nolli, e seus agregados. 

Fora as marcas de páginas, grifos, anotações de canto, e até um beijo de batom na página com informações sobre a edição brasileira.

 

Confesso que li aquela grossa brochura em menos de 5 dias. Lembro que era julho, férias, e chovia na minha pequena Macondo particular.

Então eu devorei página por página, a história de uma família, que era a história de uma América, e podia ser a história de uma mulher centenária, e contava sobre as maravilhas e mazelas de uma cidade do interior, dores de amor e horrores bélicos.

 

Mas foi meu encontro com O amor nos tempos do cólera o golpe fatal, o selo de minha paixão pelas invenções geniais da literatura de Gabriel García Marquez. 

Li, reli, li novamente, e a obra não me abandonava mais. 

Passou a ser parte da minha ossatura, compor meus sonhos de menina, a inventariar aquilo que eu imaginava sobre o amor. 

O protagonista, telegrafista profissional e escrevedor de cartas de amor amador, escrevia amores de outros, prestava serviço de declarar paixões alheias numa pequena banca, arredores da região portuária, alugava suas palavras para amantes desconhecidos, e vivia pessoalmente a saga longa e febril de um amor que não se realizava. E enquanto isso, seu país padecia de cólera.

 

 

Depois, já não sei ao certo, talvez a ordem seja essa: O Outono do patriarca, Relato de um náufrago, Crônica de uma morte anunciada, Do amor e outros demônios, Doze contos Peregrinos, Notícias de um sequestro, Sequestro, Erêndira, Os funerais da mamãe grande, Memórias de minhas putas tristes, Ninguém escreve ao coronel... não sei precisar a ordem, a cronologia, a totalidade. 

Esse mundo inventado por Gabriel invadiu minhas tardes, noites de leituras, e eu era capaz de trocar aventuras reais por imersões em suas páginas brilhantes. E entrou na minha vida adulta. Ficou lá, parte dela.

 

 

Pisciano, comunista, amigo pessoal de Fidel, jornalista, místico, crente nos poderes divinatórios do caminho traçado por astros em seus movimentos irreconhecíveis pelo céu e nas misteriosas revelações legíveis em cartas antigas, apaixonado, ele foi o inventor de uma América que, apesar de insólita e embriagante, era criança, prenhe de futuro e liberta para as paixões devastadoras. Para a liberdade.

 

 

Difícil permanecer em solo latino americano com a sombra de sua morte. 

 

 

A América de Marquez tinha saídas de emergência: linhas mágicas por calçadas de pedras no Caribe, passagens para portais líricos que nos levariam a dimensões poéticas; apesar e paralelamente aos horrores e violências de nossa história truculenta. 

Era um continente capaz de sorrir inocente, capaz de amar em meio à guerra, de profetizar sonhos nobres, de transpor barreiras culturais e arranhar até a destruição, as paredes de uma cela solitária. 

 

 

Por trás de toda a visão realista com a qual pintava sua gente e lugar de origem, Gabriel preservava com gentil poesia o lugar para o acontecimento fantástico; mantinha fôlego e alegria para o suspiro de elevação; desenhou rotas idílicas para uma terra triste. Triste América como foram suas putas, todas tristes senhoras do Caribe. 

A América, uma puta triste com os cabelos oleosos da brisa marítima, mulheres cansadas a vender peixes nas feiras do porto como quem vende sonhos de um futuro elevado. Uma mulher mestiça de batom vermelho, a beijar um sonho, uma utopia comunista.

 

 

Fica mais propícia ao cinismo a partir de hoje a reinvenção literária da América sem García Marquez. 

 

 

Esse escritor foi um inventor de bandos alegres, e também um escrutinador das solidões dos poderes políticos, dos desmandos de gabinetes. Foi um homem da poesia, sobretudo. 

Poesia melancólica, de bêbados das regiões portuárias; homem que entendia tanto de mandingas de escravos quanto de rezas de padres apaixonados. 

Ele sabia o que somos. De onde viemos. E apontava, fantasticamente, o futuro utópico de nós, pobres e risonhos americanos. 

Ao traçar um final feliz, apesar de demorado, para seu telegrafista em O Amor nos tempos...- outro pisciano, portanto uma criatura febrilmente apaixonada - ele escrevia também sobre a sobrevivência do sonho mais pueril, e então o mais legítimo, em meio ao transtorno da epidemia do cólera que assolava seu Caribe. Ele escrevia sobre essa meninice que somos, apesar de sermos o que somos.

 

 

Há algo de transcendental, de generoso, há um enorme desenho de um cais brilhante e lustroso no porto chamado América que percorre toda obra de Marquez. 

Uma poesia oleosa, suada, sensual, sombria por vezes, por outras inspirada em sua rotina de repórter, que a tudo assistia, infantil e credulamente.

 

 

A poesia dele cheirava aos peixes de águas mornas, aos ritos do interior, às cachaças de feiras, às ciganas de ocasião, aos amantes infelizes, fadados à incompreensão.

Cheirava aos amores improváveis, e aos sonhos erguidos sobre a areia fina de nossa costa atlântica. Mas era um sonho. Um sonho chamado fantástico. 

IV-

amor de feira

 

 

amor de feira, profusão dos cheiros, flores fora das estações, carne posta nas bancas, para o delírio do olfato, e as carnes das frutas ainda verdes, ladeando emergências maduras, da próxima tarde. 

exalando par a par: a indiscrição, variedade, buquê com mil notas e outras mil coisas vivas, entrosadas, perfume da vida desordenada,  para o desvario, e um coração famélico, outro pálido de desejo, outro saciado embriagado de cheiros.

verbo solto, cabelos em coques, sacolas trançadas, mãos dadas, paixão na calçada, pisa agitada num trânsito de liquidações, últimos maços. 

a cesta cheia, a dona cheia, a rua fechada, e a paixão desesperada sinaliza um sim, provar o cacho solitário da banca ao lado. ânsia nas mãos, braços rápidos, há um lance, gesto brusco, leilão fugaz e quem dá mais, leva, a remessa desdenhada. 

peixe fresco, partes descobertas, ervas secas ao sol. compradora olha, estuda: pescador sem anzol. enquanto a manhã urge seus calores, cozendo legumes, caldeirão invisível para um ensopado imaginário, na banca central. 

um que flerta, assovio e deslumbre, a aventura de uma fruta incerta (talvez asiática), toma nota: toque aveludado na casca, sumo farto, pregas nas polpas. o amor dá-lhe as costas. rua interditada na manhã de quarta. sem caroço ou embaraço, a moça se balança, pacote cheio sob o braço, some no raiar de um meio dia. 

pregões, muitos pregões, e a sofreguidão de um beijo lambuzado por gorduras, mergulhado na lembrança de pasteis, língua solta, cordéis de mel e eucalipto, e um grito de oferta instantânea. 

o jornal colando pés dos velhos amantes, corpos rotos, notícias de antes, paralelepípedos para uma paixão gigante, adormecida, a dona e o feirante. amor, fim de feira.

 

 

 

V-

alguns, algumas

 

alguns segredos no fundo do oceano repousam, ao lado de cartas nunca lidas.

alguns convites são guardados no mesmo baú onde jazem corações partidos ao meio.

 

algumas noites não sucedem dias, como alguns dias não desembocam na boca da noite.

 

alguns homens morrem cedo, e pássaros voam para o norte com seu bando. e os bandos pequenos de bandidos vagam pelo sul de uma cidade decadente.

 

e alguns dentes não caem por segurarem sorrisos longos, assim como alguns braços foram feitos para lacear cinturas finas, e acima, logo no colo, cabem como luvas.

 

alguns segredos entram pelas portas dos fundos, sentam-se à mesa vazia, comem a comida fria, e saem sem que se perceba.

 

algumas luzes sempre ficam acesas, para o ladrão, para a paixão, e para o fantasma da solidão não entrarem, não juntos, não cúmplices.

 

alguns crimes são cometidos a sangue frio, e outros em meio a um filme de Cassavetes, ou durante a valsa sem número que toca na vitrola vizinha.

alguns crimes são azedos pela manhã, e trazem a notícia de ontem.

 

algumas pessoas são ocas, como árvores atacadas por cupins. algumas pessoas são cupins, ou como árvores, sempre dizem sins.

 

algumas cartas são vagas como praias sem algas, são falsas como as tranças sem alças, são pálidas como as moças dessa cidade.

e os pássaros voam para o sul com seus bandos quando chega o inverno no norte.
 

e a noite tem cheiro, como cheiram as casas cheias, como cheiram as ruas de festas, e a pazes alheias.

 

alguns convites são indecorosos, e trazem mãos trêmulas. alguns convites são indecorosos, e trazem as mãos dadas ao baú onde vivem as memórias amassadas.

 

e alguns dentes esperam as noites de estrelas cadentes para brilharem sobre o fundo escuro da garganta aberta da cidade coberta de pelos. e alguns corpos são livres de pelos e trazem o cheiro das rodas gigantes.

 

e alguns textos são como rodas, tolos e desviantes.

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