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:::verso prosa & silêncio:::
escritos e edição de Natália Nolli Sasso
sumiço e hospício de mim
me esqueça num fundo de panela
me deixe de molho por um ano
me coloque em segundo plano
me entregue a um desconhecido
no último vagão do trem suburbano
enrolada numa trouxa de pano
enfeitada com laço de seda
amassada
embrulhada
amordaçada
coberta em velho tecido.
me abandone ao lado de fotos de família,
sobre teu piano
me esqueça
e desbote
limpe vez ou outra
com peroba e flanela
me fite só por engano.
me jogue pela janela
em sigiloso assassinato,
frio ato
de um amador
iniciante bandido
(reclame minha morte ao cupido)
ou me afogue em tuas lembranças,
trancada numa gaveta
jogue as chaves
me trave
com cartas, cordas
e tranças.
me sonhe temível feiticeira, louca criança
sedutora ninfeta
traidora companheira.
ou me torture com palavras ácidas
me mergulhe na banheira:
jogue sais
faça bolhas de sabão
mandingas
mágicas
me faça escrava
sereia,
peixe,
baleia.
me sirva numa bandeja,
com batatas assadas e cereja
antes
me asse
me esquarteje numa travessa,
sem pressa,
jogue molho
misture cebola e sardela,
tempere a gosto,
brinde com cerveja
e bom almoço!
por fim, me mate de solidão
me reze numa novena
me enterre no seu coração
maldiga meus modos,
maneiras
seja vil, infame
e vá pra longe,
onde de mim,
nem notícias
fotos
ventos
cheiros ou pequenos sofrimentos.
decrete, então
meu sumiço
marque missa,
espalhe cartazes
vista negro
longo luto
finja choros,
acenda velas
enterre meus tesouros
se interne em casa
mudo
ou vá para um hospício
por tempo indefinido.
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